terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Ao iniciar estudos sobre as dificuldades de aprendizagem de escolares, é imprescindível uma breve introdução sobre o sistema nervoso

O sistema nervoso bem como o órgão dos sentidos (anatomia e fisiologia) assume desde as contrações musculares, funcionamento dos órgãos e até a velocidade de secreção de glândulas endócrinas.
Vê-se a grande importância destes nos processos neurológicos, que definitivamente, atuam no ensino e a aprendizagem humana.
O ser humano, em seu nascimento, apresenta uma maturação estrutural que anatomicamente, ainda irá percorrer um duro caminho, que dependerá de hormônios, fabricados por glândulas de secreção interna (sistema endócrino).
O sistema nervoso central (SNC) localiza-se dentro da caixa óssea. Ele é formado por três porções : cérebro e cerebelo, contidos na cabeça e também da medula nervosa, localizada no canal espinhal.
O próprio córtex cerebral, que é a substância cinzenta que reveste o cérebro e onde se localizam as funções superiores, apresenta uma forma bastante rudimentar no nascimento. Mas ele é o centro, onde muitas informações são avaliadas e principalmente processadas as informações ao organismo.
Na primeira semana de vida, do bebê apesar de apresentar algumas estruturas prontas e definidas, ainda apresentam outras que estão por se desenvolver, como a visão e audição imperfeitas, bem como o olfato, gustação e sensações táteis. E mesmo dormindo o bebê continua se desenvolvimento e o que muitos chamam de soninho do crescimento, nada mais é do que o córtex cerebral trabalhando.
Para Helen Bee (1984) durante os primeiro meses e anos de vida, algumas células corticais são acrescentadas, as células ficam maiores e as já existentes são capazes de estabelecer conexões entre si. Com isso o cérebro torna-se mais pesado.
A mesma imperfeição acomete seu centro de equilíbrio e reflexo postural.
No entanto, o bebê já nasce sabendo mamar, simplesmente porque este é um reflexo nervoso inato.
Mas por que um bebê apresenta reflexos de micção, evacuação e fome?
Porque estes reflexos correspondem ao sistema nervoso periférico (SNP), autônomo, que assim é chamado por não se localizar na caixa óssea.
A partir do desenvolvimento físico da criança, o sistema nervoso central vai amadurecendo. E todo o sistema do sentido e demais centros nervosos, em trabalho progressivo, dentro do sistema nervos central, também amadurecem em sua toda a estrutura.
Somente desta maneira, a criança poderá entrar em contato com o meio exterior, através dos sistemas ou órgãos dos sentidos, sendo estes: sistema tátil térmico doloroso, sistema associado ao reflexo postural, visão, audição, gustação e olfato.
Lembremos que para cada sistema, existe um centro nervoso específico, localizado na camada periférica do cérebro.
O pleno funcionamento do sistema nervoso somente acontece quando suas estruturas chegam a uma determinada fase de maturação e toda e qualquer malformação, distúrbio ou interrupção, ocorrida no cérebro ou no cerebelo, trazem prejuízos a aprendizagem da criança afetada no percurso do seu desenvolvimento até chegar à escola.
Muitos destes prejuízos tomam corpo e nome de distúrbios de aprendizagem onde é possível observar o comprometimento de áreas do desenvolvimento da aprendizagem.
Segundo Valett(1979)há pelo menos 53 capacidades consideradas como requisito para a pré- aprendizagem e também para a alfabetização. Tais capacidades são agrupadas em seis grandes áreas de desenvolvimento:
a) Desenvolvimento da motricidade geral
b) Integração sensoriomotora ou sensório motriz
c) Habilidades perceptico- motoras ou perceptomotoras
d) Desenvolvimento da linguagem
e) Habilidades conceituais
f) habilidades sociais
A escola, envolvida neste percurso, enquanto espaço de aprender e de ensinar, vê-se invadida por muitas demandas que envolvem as áreas citadas acima e, muitas vezes, não consegue solucionar os problemas encontrados e por isso, realiza encaminhamentos para especialistas, dentre eles, o psicopedagogo.
É importante ter um olhar de observador cuidadoso, enquanto psicopedagogo de uma criança pequena. Costumo seguir algumas das sugestões de Valett( 1982) enquanto professora e psicopedagoga. É preciso também realizar a verificação de vista de exames que tenham sido realizados do ponto de vista neurológico pois a investigação neurológica possibilita-nos conhecer de que modo deu-se a adequação de instrumentos ás demandas de aprendizagem .
A este respeito, Pain (1985) ressalta que o sistema nervoso sadio, se caracteriza, em nível de comportamento, pelo seu ritmo, sua plasticidade, seu equilíbrio. Isto lhe garante a harmonia nas mudanças e conseqüência na conservação. No entanto, se ocorre lesões corticais, encontramos uma conduta rígida, patente na educação perceptivo-motora (hipercinesias, espasticidade, etc.) ou na compreensão (afasias, dislexias, etc.).
Trabalhando também como professora há mais de vinte anos, e tendo observado que a cada ano, recebemos crianças que passaram mais tempo em companhia de professores do que em companhia materna, constatei que há uma grande ausência de estímulos adequados ao desenvolvimento da aprendizagem infantil.
Irei pontuar algumas considerações, junto ao caso de H. paciente masculino, de idade de sete anos e quatro meses.
Cabem aqui algumas observações neste breve artigo em relação ao menino H. de sete anos que freqüenta escolas desde oito meses de idade e que atualmente está no segundo ano do ensino fundamental.
Descrição do Caso: paciente masculino, idade sete anos e quatro meses
Pré natal: Gravidez não programada. Mãe não fez pré- natal.
Perinatal: É o quarto filho e caçula. Não foi amamentado. Mãe alega que não houve aceitação por parte da criança e que este preferiu a mamadeira que não consegue abandonar.
Doenças: otites freqüentes e quadro neurológico de convulsões acompanhadas por pediatra e neurologista.
Desenvolvimento motor: demorou para sentar e andar mais que os outros filhos.
Desenvolvimento da linguagem: demorou para falar. Mãe alega que todos na casa fazem tudo para o filho
Hábitos: Todos continuam fazendo tudo para o menino H.e que ele não quer fazer nada sozinho. H. mora numa residência com uma família bem grande: 12 pessoas.
Ao entrar em contato com a professora de H., a mesma informou que este não consegue montar quebra-cabeças de madeira de 10 peças mediante modelo, não consegue segurar a tesoura como as outras crianças, não sabe o nome de colegas, não consegue acompanhar brincadeiras de roda e tem medo de pular corda. Ela também disse que ele chupa muito o dedo durante a maior parte do tempo em que está na escola.
Após alguns dias, atendi a mãe que relatou que H. demorou muito para sentar e andar (quase aos dois anos) e que nunca gostou de mamar no seio, aceitando prontamente a mamadeira. Ela ainda elogiou muito o filho, afirmando que este nunca lhe deu trabalho e sempre foi quietinho, mais que os outros filhos, apesar de ter tido muitas otites e que ele teve algumas convulsões febris quando era bebê.
Após concluir a anamnese e passei a atender seu filho.
Atendi H. durante um ano apenas e seu progresso obteve sucesso.
Durante o atendimento, realizei em algumas das sessões, jogos de memória de mesa e de software, como por exemplo, o Turtle (uma tartaruga interativa que acende luzes conforme avança na caminhada, bastante parecido com Gênios jogo eletrônico visual e sonoro lançado em 1980 pela Estrela)
Este tipo de jogo é coadjuvante no fortalecimento da memória de curto prazo.
Sua professora realizou algumas mudanças na rotina da sala e pediu aos colegas que não mais auxiliassem tanto H., pois ele estava acostumado a fazer da escola uma extensão da rotina adotada pelos familiares. Ela também procurou interferir para que H. não chupasse o dedo o tempo todo, oferecendo atividades estimulantes, como pinturas e outras atividades plásticas.
Sabemos que é amplamente divulgada a questão dos benefícios do aleitamento materno para o desenvolvimento da criança, principalmente o fortalecimento ósseo e muscular que se inicia na sucção do seio materno.
Muitas crianças que não foram amamentadas costumam buscar outras fontes de sucção (como o dedo, chupeta e outros objetos) como recurso de alívio emocional.
É importante estabelecer um plano de trabalho que contemplem a áreas de desenvolvimento e aprendizagem e que seja capaz de esclarecer o trabalho que um psicopedagogo pode fazer em parceria com a escola e família.
No caso de H. foi de grande importância o levantamento de dados médicos clínicos para uma melhor compreensão e acompanhamento do caso de convulsão e otites freqüentes.

Bibliografia

Bibliografia:
Lefèfre, Antonio B(1972)- Exame neurológico evolutivo do pré - escolar normal. São Paulo Editora Livros médicos
Pain, Sara. (1989) Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre/ Artes Médicas
Valett, Robert.(1987) Tratamento de Distúrbios de Aprendizagem. São Paulo EDUSP

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